Liberdade de Expressão

Comunicado de Imprensa R191/18

A Relatoria Especial condena o assassinato de jornalista em Brasil e insta as autoridades do país a investigar sua relação com a atividade jornalística

28 de agosto de 2018

Washington D.C. – A Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condena o assassinato do jornalista Marlon de Carvalho Araújo e insta as autoridades brasileiras a investigar as possíveis conexões do crime com o trabalho jornalístico da vítima.

De acordo com as informações disponíveis, o jornalista Marlon de Carvalho Araújo foi assassinado mediante o uso de uma arma de fogo na madrugada de 16 de agosto em sua residência no povoado de Chapada, na zona rural da cidade de Riachão do Jacuípe, Bahia.

A vítima atuava como jornalista independente e difundia vídeos e informações de questões ligadas ao âmbito político por meio de redes sociais. Nesse sentido, o jornalista era conhecido por fazer denúncias de corrupção contra políticos de diversos municípios de sua região. De acordo com os meios de comunicação do país, nas últimas eleições Marlon de Carvalho Araújo foi candidato a ocupar um assento na Câmara dos Vereadores de Riachão de Jacuípe. Além disso, segundo informações de conhecimento público, no último vídeo que carregou em sua conta de Facebook, o jornalista afirmou que estava prestes a expor um esquema de corrupção envolvendo um vereador da Câmara de Pé de Serra, um município vizinho.

"O tipo de cobertura que o jornalista realizava sugere que o crime está relacionado ao seu trabalho. O Estado do Brasil deve seguir uma linha de inquérito ligada à sua cobertura", afirmou Edison Lanza, Relator Especial da CIDH.

A Relatoria Especial lembra ao Estado brasileiro sua obrigação de investigar a possível relação desse crime com o trabalho jornalístico da vítima. Uma investigação que não pondere aspectos relacionados ao contexto da região e à atividade profissional do jornalista terá menos possibilidades de conseguir resultados. A Relatoria Especial insiste na necessidade da criação de protocolos especiais de inquérito para assegurar a adequada investigação dos assassinatos contra jornalistas por parte das autoridades estatais.

Além disso, a Relatoria Especial toma nota que o Estado brasileiro informou que havia reforçado o orçamento do "Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos" estendido a jornalistas e trabalhadores da mídia, sendo este o maior orçamento destinado ao Mecanismo desde sua criação. Nesse sentido, este Escritório recorda ao Estado que esse mecanismo deve atender às necessidades dos jornalistas e precisa ser amplamente difundido entre os funcionários dos meios de comunicação, para que possa oferecer garantias efetivas às pessoas que se encontrem em situação de risco por conta de sua atividade jornalística.

O princípio 9 da Declaração de Princípios sobre Liberdade de Expressão da CIDH destaca: "[o] assassinato, o sequestro, a intimidação e a ameaça aos comunicadores sociais, assim como a destruição material dos meios de comunicação, viola os direitos fundamentais das pessoas e limitam severamente a liberdade de expressão. É dever dos Estados prevenir e investigar essas ocorrências, sancionar seus autores e assegurar reparação adequada às vítimas".

A Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão foi criada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) com o objetivo de incentivar a defesa hemisférica do direito à liberdade de pensamento e expressão, considerando seu papel fundamental na consolidação e no desenvolvimento do sistema democrático.

R191/18