Liberdade de Expressão

Comunicado de imprensa R23/19

Relatoria Especial condena a detenção de jornalistas na Venezuela e recomenda que o Estado se abstenha de expulsar correspondentes estrangeiros

 

Washington D.C. - A Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condena a detenção de jornalistas por forças de segurança do Estado da Venezuela, e a prática de expulsar correspondentes estrangeiros que ingressam ao país para fazer a cobertura da situação política na Venezuela.

Segundo informações de conhecimento público, pelo menos sete jornalistas estrangeiros teriam sido detidos de maneira arbitrária na última semana, dos quais dois jornalistas de nacionalidade chilena teriam sido expulsos do país. De acordo com a informação, todos os jornalistas estrangeiros teriam sido postos em liberdade de forma progressiva e estariam em processo de saída do país.

Os jornalistas franceses Pierre Caillé e Baptiste des Monstiers, repórteres do programa "Quotidien", e o seu produtor no país, Rolando Rodríguez, teriam sido detidos ao meio-dia de 29 de janeiro, nas proximidades do Palácio de Miraflores. De acordo com as informações, eles teriam sido detidos por gravar imagens nas proximidades do edifício do Palácio de Miraflores enquanto cobriam uma manifestação.

Da mesma forma, os jornalistas de nacionalidade chilena, Rodrigo Pérez e Gonzalo Barahona, da TVN, foram detidos em 29 de janeiro e expulsos no dia seguinte. Igualmente, os jornalistas venezuelanos Maikel Yriarte e Ana Rodríguez, de nacionalidade venezuelana, que acompanhavam aqueles dois jornalistas estrangeiros, foram detidos e posteriormente liberados. De acordo com as informações, o motivo da detenção teria sido porque estavam em uma "zona de segurança" nas proximidades do Palácio de Miraflores, enquanto cobriam uma manifestação.

De acordo com as informações disponíveis, Leonardo Muñoz, Mauren Barriga e Gonzalo Domínguez Loeda, jornalistas estrangeiros correspondentes da Agência EFE, foram detidos pelas forças de segurança do Estado da Venezuela em Caracas. Muñoz teria sido detido enquanto estava indo cobrir uma manifestação social na manhã de 30 de janeiro. Segundo o informado, de igual maneira teria sido preso o produtor que os acompanhava, José Salas, que teria nacionalidade venezuelana. Em relação com os outros jornalistas, na mesma data teriam sido detidos pelo SEBIN no escritório dessa Agência, e levados ao "El Helicoide" para serem interrogados.

O diplomata Jorge Arreaza manifestou nas redes sociais que os jornalistas "não podem conceder uma credencial a si mesmos" e que "alguns jornalistas estrangeiros entraram no país de maneira irregular sem cumprir com o respectivo pedido da licença de trabalho," além de que "vários tentaram ingressar no Palácio Presidencial sem credencial."

A Relatoria Especial recorda que os esquemas de credenciamento a jornalistas somente são apropriados se necessários para lhes oferecer acesso privilegiado a alguns lugares e/ou eventos; tais esquemas devem ser supervisionados por órgãos independentes, e as decisões sobre o credenciamento devem ser tomadas em atenção a um processo justo e transparente, baseado em critérios claros e não discriminatórios, publicados com antecipação. O credenciamento nunca deve ser objeto de suspensão somente com base no conteúdo das informações veiculadas por um jornalista.

"A imprensa nacional e estrangeira possuem um papel fundamental em cobrir a situação de crise política e econômica vivida pela Venezuela, diante da exigência da Assembleia Nacional e do povo venezuelano de colocar um ponto final na ruptura da ordem constitucional," expressou Edison Lanza, Relator Especial para a Liberdade de Expressão. "Os jornalistas e meios internacionais são cruciais para cobrir os acontecimentos de interesse e relevância internacional e manter os venezuelanos informados no país e no exterior, assim como a comunidade internacional. Os jornalistas também realizam um registro valiosíssimo das manifestações, protestos e da grave situação humanitária vivida no país," acrescentou.

O Estado tem a obrigação de garantir o trabalho dos jornalistas e deixar de impor restrições aos jornalistas estrangeiros que viajam à Venezuela para cobrir a situação em um contexto de falta de censura e pressões contra a imprensa nacional. Como mencionado pela Relatoria Especial em várias oportunidades, o direito à liberdade de expressão não termina nas fronteiras nacionais, e os Estados não devem impedir ou requerer requisitos desproporcionais aos correspondentes e jornalistas que buscam ingressar e permanecer no país.

A Relatoria Especial recorda que os agentes do Estado devem respeitar e garantir o trabalho dos jornalistas, fotógrafos e câmeras dos meios que cobrem os protestos, e qualquer agressão, destruição ou confisco de equipamentos ou materiais, e detenções daquelas pessoas constituem violações à liberdade de expressão, além dos outros direitos abrangidos.

A Relatoria Especial apela ao Estado para garantir que os jornalistas e comunicadores possam desempenhar o seu trabalho informativo e não sejam detidos, ameaçados, agredidos ou limitados de qualquer forma em seus direitos por estar exercendo a sua profissão; além de que os seus materiais de trabalho não devem ser destruídos nem confiscados pelas autoridades públicas.

R23/19