Liberdade de Expressão

Orlando Sierra

“A tentativa de silenciar os meios de comunicação é um ato duplamente terrorista, porque significa infundir, ao medo, o silêncio. Já estamos enfrentando uma guerra de armas; por que também temos que suportar uma batalha de silêncios?”.

Orlando Sierra, horas antes de seu assassinato.

Orlando Sierra

Em 30 de janeiro de 2002, o jornalista Orlando Sierra Hernández foi baleado frente aos escritórios de seu jornal e faleceu dois dias depois. Orlando Sierra era Subdiretor do jornal La Patria, de Manizales, Colômbia, e um dos jornalistas mais influentes da região. Escrevia uma coluna chamada Punto de Encuentro [“Ponto de Encontro”], onde analisava de forma crítica questões de interesse nacional e regional, em especial casos de corrupção envolvendo políticos locais. Em suas colunas semanais, Orlando Sierra também criticava as violações de direitos humanos cometidas pela guerrilha, pelos grupos paramilitares e pelas forças de segurança do Estado. Apesar das ameaças que recebia como consequência de seu trabalho, Sierra nunca deixou de escrever, tampouco diminuiu o tom de suas denúncias.

O processo para identificar e julgar os autores do assassinato de Orlando Sierra está em andamento. Poucos meses depois do crime, o autor material foi condenado, e esteve cinco anos em prisão. Também foram condenados dois coautores materiais. No curso da investigação, várias potenciais testemunhas foram assassinadas. Em 2006, o então fiscal geral da Colômbia informou que Orlando Sierra teria sido assassinado por conta de suas denúncias contra a corrupção de importantes funcionários públicos e a presença de grupos paramilitares. Em 2011, foi ordenada a detenção preventiva de dois políticos do departamento de Caldas, na condição de supostos autores intelectuais do homicídio. Em setembro de 2012, iniciou o julgamento de um deles, a quem Serra havia questionado duramente em suas colunas. Além dele, estão sedo julgados três supostos integrantes de seu círculo de segurança.

“Escolhi ser jornalista. Mas nesse ofício, mais além de ser muito bom ou muito ruim, a única e sã condição para cumpri-lo é o compromisso. Esse compromisso é o que me tem confrontado, e por isso tenho recebido muitas ameaças”.

A investigação do assassinato de Orlando Sierra não teria sido possível sem os esforços de seus próprios colegas de imprensa. Depois do crime, sete importantes jornais e revistas do país (La Patria, El Colombiano, El Tiempo, El Espectador, Cambio e Semana) colaboraram para investigar a morte do jornalista, em uma investigação que foi publicada simultaneamente pelos sete meios e auxiliou em estabelecer o seu dínamo político. Esse esforço comum, conhecido como o Projeto Manizales, serviu de plataforma para que os meios de comunicação avançassem de forma conjunta em algumas investigações que jornalistas colombianos realizavam no momento de sofrerem atos de violência. Assim, por exemplo, o Projeto Manizales foi reativado para acompanhar as investigações realizadas pelo jornalista Guillermo Bravo no momento de seu assassinato em 2003, bem como as investigações que provocaram ameaças de morte contra o editor investigativo do El Diario del Huila, Germán Hernández, em 2007.

Orlando Sierra nasceu em Santa Rosa de Cabal, Colômbia, em 1959. Estudou filosofia e letras na Universidade de Caldas, e jornalismo na Universidade Jorge Tadeo Lozano. Foi professor da Universidade de Caldas e também diretor de Extensão Cultural na mesma universidade. Seu desejo foi o de ser escritor. Desde 1985, vinculou-se ao jornal La Patria, de Manizales, Colômbia. Iniciou como colaborador de uma coluna cultural e logo ascendeu a diferentes cargos. Foi Chefe de Redação desde 1990, cargo que ocupava quando começou a escrever a coluna Punto de Encuentro, que se converteu em uma leitura obrigatória. Quando foi assassinado, cumpria a função de Subdiretor do jornal. Também foi poeta e escritor. Escreveu três livros de poemas e o romance La estación de los sueños, que foi publicado na França cinco anos após o seu assassinato (2007).

Como um tributo à coragem exemplar de Orlando Sierra e dos(das) jornalistas que foram assassinados ou que arriscaram sua vida e sua liberdade para defender o direito das sociedades a se informar de modo pleno, a Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos criou a Bolsa Orlando Sierra 2012-2013.