Temas considerados pela Comissão
Programa de Educação para a Paz
Reunião de
Peritos para Elaborar un Projeto de Programa de Educação para a Paz no
Hemisfério
CONSELHO PERMANENTE DA
ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS
COMISSÃO DE SEGURANÇA HEMISFÉRICA
|
OEA/Ser.G
CP/CSH-225/99
25 agosto 1999
Original: espanhol |
"COM VISTAS A UMA CULTURA DE CONFIANÇA
E DE CONVIVÊNCIA DEMOCRÁTICA"
Documento de trabalho
(Colômbia)
ÍNDICE
I. ANTECEDENTES
II. CONTEXTO TEÓRICO DA PROPOSTA
A. Dimensão cultural
B. Dimensão ética
C. Dimensão educacional
III. CENÁRIOS DA PAZ NO HEMISFÉRIO
IV. ALCANCE DA PROPOSTA
V. PROPOSTA DE PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PARA A CONVIVÊNCIA PACÍFICA
HEMISFÉRIO
A. A educação e a solução pacífica de conflitos
B. A educação e a promoção dos valores e práticas democráticos
C. A educação e a promoção da paz entre os Estados
VI. COMPROMISSO CONCRETO COM O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PARA A PAZ NO
HEMISFÉRIO.
VII. TRADUÇÃO DA PROPOSTA EM AÇÃO.
EDUCAÇÃO PARA A PAZ NO HEMISFÉRIO
"COM VISTAS A UMA CULTURA DE CONFIANÇA
E DE CONVIVÊNCIA DEMOCRÁTICA"
I. ANTECEDENTES
A iniciativa do Programa de Educação para a Paz surgiu no âmbito da
Conferência Regional sobre Medidas de Fortalecimento da Confiança e da Segurança,
realizada em Santiago, Chile, em 1995. Por este motivo, a Comissão de Segurança
Hemisférica foi encarregada de solicitar ao Conselho Permanente as diretrizes gerais para
o Programa de Educação para a Paz no âmbito da OEA.
Desde sua origem, a iniciativa teve uma dimensão tanto ética como
política, diferente, talvez, do que seria se procedesse das instâncias educacionais da
Organização. O tema corresponde a um dos princípios da Carta da OEA que consagra:
"... a organização internacional que vêm desenvolvendo para conseguir uma ordem de
paz e de justiça, para promover sua solidariedade, intensificar sua colaboração e
defender sua soberania, sua integridade territorial
".
Por isso, solicitou-se, desde o início, a colaboração da UNESCO,
para que contribuísse com sua experiência neste campo e, portanto, as iniciativas desse
organismo se refletem nesta proposta.
Os critérios básicos que orientam este documento de trabalho são
congruentes com os seguintes princípios da Carta da OEA: "A unidade espiritual do
Continente baseia-se no respeito à personalidade cultural dos países americanos e exige
a sua estreita colaboração para as altas finalidades da cultura humana", e "A
educação dos povos deve orientar-se para a justiça, a liberdade e a paz".
II. CONTEXTO TEÓRICO DA PROPOSTA
A. Dimensão cultural
A aspiração dos povos do Hemisfério de conviver em níveis
progressivos de confiança mútua, de mútua colaboração, progresso e eqüidade dentro
da diversidade dos projetos nacionais e da variedade das culturas que nos caracterizam,
longe de ser uma quimera é um projeto realizável, para o qual se vêm dando passos
significativos no Hemisfério.
O horizonte histórico desse projeto não se limita ao curto ou médio
prazo, mas se estende indefinidamente para o futuro, e seu conteúdo anuncia maior
dinamismo e maior complexidade e diversidade dos seus processos.
Seu sentido encontra-se, por conseguinte, muito além de um programa
específico e limitado em relação com a segurança ou a coexistência pacífica, no
amplo substrato da cultura, no que se depuram as sementes da humanidade e serão
conquistados níveis superiores de organização civilizada.
Desta forma, esta proposta coincide com o pensamento da UNESCO, que
considera que "É indispensável a formulação de um novo paradigma para a paz em
resposta aos desafios da crescente violência social. É preciso desenvolver uma Cultura
de Paz no plano mundial".1 Neste nível, a linguagem
adquire especial importância, como veículo de articulação e de transmissão da cultura
e como "linguagem interior" das pessoas, que reforça ou perturba a confiança
mútua e a paz.
O cultivo de uma linguagem propícia para o fortalecimento das
relações de confiança e para a solução pacífica dos conflitos tem uma importante
função formativa e permite desenvolver a capacidade argumentativa com relação aos
assuntos da moral coletiva. Como toda linguagem individual ou social reflete
valores, crenças e atitudes, trata-se, portanto, do ponto de partida para fazer da paz um
assunto de discussão permanente e diálogo contínuo.
B. Dimensão ética
A convivência pacífica, nos Estados e entre eles, é o resultado de
normas de comportamento, uso, costumes, regras e instituições, congruentes com valores
compartilhados e arraigados no âmago de cada povo e de cada pessoa. Essas normas e
valores devem ser construídos e amadurecidos graças, principalmente, à educação sob
todas as suas modalidades. Entre esses valores ou premissas coletivas, destacam-se a
convicção de que é possível e necessário deter a guerra, porque, no final, esta se
manifesta, cada vez mais, como um meio carente de sentido para a solução humana de
conflitos, para se justificar em motivos conjunturais de aparente solidez racional.
Daí, a convicção de que a confiança entre as pessoas, os grupos, as
culturas e os países tem que anteceder as estratégias e mecanismos políticos que
dinamizam as sociedades e, ao mesmo tempo, ser o principal resultado dos mesmos. Essa
confiança tem que estar arraigada no ethos dessas pessoas, grupos, culturas e
países, para manter uma convivência pacífica.
C. Dimensão educacional
Com razão, a UNESCO afirmou que "é na mente dos homens que se
devem erigir os baluartes da paz" (Carta Constitutiva). A mente e o coração são, a
partir desta perspectiva, o objetivo da educação; esta adquire, cada vez mais, o
principal papel na construção de uma convivência pacífica. E a paz, como afirma uma
vez mais a UNESCO, "não pode consistir unicamente na ausência de conflitos armados,
mas implica, principalmente, um processo de progresso, de justiça, de respeito mútuo
entre os povos, destinado a garantir a edificação de uma sociedade internacional na qual
cada um possa encontrar seu verdadeiro lugar e gozar da parte dos recursos intelectuais e
materiais do mundo que lhe corresponde".2
Mas a educação não é o único meio de garantir a paz, nem sua
eficácia a este respeito é absoluta; nem toda educação leva diretamente à paz. É
claro que se requer a mediação de outras instâncias, como a da política e da economia
e a de certos setores sociais para que este valor tenha vigência, bem como para que o
próprio direito à educação tenha a cobertura e a eqüidade que necessita. A ausência
de paz continua vinculada a "problemas ancestrais ainda sem solução, como a pobreza
[aos quais] foram acrescidos ou intensificados fenômenos, tais como o tráfico de drogas,
a corrupção, o terrorismo, o crime organizado, a insegurança pública",3 a instabilidade democrática, a violação dos direitos humanos
e problemas específicos que exigem urgente solução.
III. CENÁRIOS DA PAZ NO HEMISFÉRIO
As situações internas e externas dos países do Hemisfério, no que
se refere à paz, configuram diversos cenários que vão desde as ordens sociais nas quais
as diferenças se resolvem sem violência armada, até situações de guerra nas quais é
preciso intensificar o respeito ao Direito Internacional Humanitário e construir espaços
neutros nos quais se criem oportunidades de reconciliação, incluindo situações em que
recentemente se deu o cessar de hostilidades e se começou a desenvolver processos de
reconciliação.
Nesta variedade de cenários, a educação deverá desempenhar diversos
papéis, motivo pelo qual, como parte de uma proposta de educação orientada pelo
propósito da paz, é necessária uma identificação do cenário de cada região ou país
e, ao mesmo tempo, uma compreensão e apoio do ritmo dos respectivos processos por parte
das demais regiões e países.
Existem também eixos conflitivos transversais que afetam todo o
Hemisfério ou grande parte de seus países, que é necessário enfrentar num esforço
educativo conjunto, levando em conta as especificidades de cada região. Trata-se dos
conflitos relacionados com o respeito aos direitos humanos, especialmente os das
crianças, bem como com as condições de pobreza extrema, o pluralismo étnico, o
tráfico de drogas e a corrupção, bem como os processos de organização e mobilização
da sociedade civil e as propostas de participação civil.
IV. ALCANCE DA PROPOSTA
Uma proposta como esta deve certamente alcançar não só o nível
individual (na sua dimensão axiológica e moral), mas também o nível familiar, no qual
se aclimatam diversas formas de violência, e no nível dos grupos sociais (como os
gerados pela multietnia) assentados em diversos territórios, nos quais atuam diversos
poderes em conflito.4 Os deslocamentos humanos que ocorrem em
diversas regiões estão dando origem a novos cenários e situações culturais que é
necessário reconhecer e enfrentar.
Para alcançar estes níveis certamente será preciso elaborar
estratégias educativas formais, bem como estratégias não-formais e informais.
V. PROPOSTA DE PROGRAMA DE EDUCAÇÃO
PARA A CONVIVÊNCIA PÁCÍFICA
Para o desenvolvimento destes critérios propõem-se três áreas
substantivas do Programa: a da educação na promoção da paz entre os Estados, a da
educação na promoção dos valores e práticas democráticos e da educação na
solução pacífica dos conflitos. De conformidade com a primazia atribuída da dimensão
ética (fortalecimento da confiança), que se relaciona mais intimamente com a natureza da
educação, sobre a dimensão política (segurança), as áreas se apresentam em ordem
inversa ao mencionado.
A. A educação e a solução inteligente dos conflitos
De acordo com as dimensões teóricas mencionadas, constata-se que o
enfrentamento armado é apenas uma das alternativas para solucionar o conflito;
precisamente a alternativa menos inteligente, menos madura e mais onerosa, com
freqüência promovida por agentes alheios ou distantes das aspirações humanas reais das
comunidades regionais ou nacionais. Isto nos convida a diferenciar claramente entre a
categoria de "conflitos" e as maneiras em que estes se solucionam.
O conflito é inerente à dinâmica humana e social e, em geral, longe
de ter uma conotação negativa, apresenta, pelo contrário, um claro sentido positivo,
por oferecer uma oportunidade para desenvolver a criatividade ou promover a madureza
pessoal, social e internacional, na busca de níveis superiores e melhores de
organização. Em última instância, os conflitos mais inteligentes exigem formas de
solução também mais inteligentes. As sociedades que progridem precisam de conflitos
inteligentes.
A partir dessa perspectiva, é preciso formar as novas gerações para
que aprendam a aproveitar a riqueza da diversidade e dos conflitos, bem como a
qualificá-los de tal maneira que se torne evidente a total perda do sentido e da
funcionalidade do recurso às armas e da guerra;5porém, ao
mesmo tempo, que as habitue a examinar as raízes reais desses conflitos e a atuar nelas,
bem como a cultivar a crítica e o diálogo, bem como a lançar mão de todos os recursos
diante da incerteza que acompanha a dinâmica social de sociedades cada vez mais
complexas. Além disso, é preciso treiná-los a enfrentar diversas contingências.
Este empreendimento compromete a educação com uma profunda mudança
na maneira de pensar e de relacionar-se entre si dessas novas gerações. Cabe ressaltar o
apelo da UNESCO para desenvolver o sentido do descobrimento do outro e a atitude de
orientação para objetivos comuns.6
A experiência tem demonstrado que nesta tarefa de aproveitar
construtivamente a pluralidade individual, cultural, étnica ou religiosa entre
indivíduos, comunidades locais ou Estados, o esforço de construir a confiança entre
eles é mais um assunto para a humanidade em geral, do que um tema próprio das chamadas
"sociedades do conhecimento";7 e se desenvolve nos
educandos com base mais nos princípios de "aprender fazendo" e de
"aprender deliberando" do que por meio de pesquisas ou programas puramente
acadêmicos. Considera-se neste campo que o poder pedagógico da interação social supera
a da escola formal. Um Programa de Educação para a Paz necessita, então, resgatar e dar
relevo às experiências de vida cotidiana da construção da paz.
Uma educação para um manejo inteligente de controvérsias implica a
consciência, o respeito, a valorização e até o aproveitamento das diferenças.
B. A educação e a promoção dos valores e práticas democráticos
Tanto a educação e o manejo inteligente das controvérsias, quanto a
promoção dos valores e práticas democráticos pertencem ao terreno da ética e requerem
a construção de um novo ethos cultural: é indispensável "mobilizar o poder
da cultura".8
No que se refere à democracia, a proximidade a um nível desejável de
uma democracia participativa real é também muito variada nos diversos Estados do
Hemisfério. Estes níveis de proximidade ou distância estão mediados por diversos
fatores, tais como a vigência do direito à educação (e dentro deste, da formação
para a cultura civil e política), os níveis de ineqüidade ou exclusão e de corrupção
(tanto no campo intra-estatal como no extra-estatal) e as formas de ingerência de poderes
trans ou supranacionais.
Nesta área, o compromisso educacional tem de se orientar para a
construção do ethos cultural democrático mediante experiências locais de
participação civil nas quais se destaque a dignidade humana e a singularidade dos
indivíduos e de seus grupos primários e se promova uma linguagem intra e intersubjetiva
autônoma, responsável e solidária.
Este ethos tem de se articular com vocações culturais
particulares das diferentes regiões e países, às quais é preciso dar a palavra,
vocações que se arraigam num determinado território e numa história igualmente
específica, que fundamenta a agenda das comunidades sujeitas a essas vocações e de seus
conflitos locais e regionais. O desafio educacional, neste caso, radica-se na forma de
consolidar a "identidade nacional" de cada Estado e a "identidade
hemisférica", de acordo com o respeito e a promoção desta diversidade cultural9, isto é, na restauração do significado e na
reconstrução permanente da estrutura social, que permita o real exercício das
liberdades e direitos consagrados nas Cartas Políticas nacionais e na das Nações
Unidas.10
Além disto, o compromisso educacional tem de se orientar para a
construção de uma ética viável neste rico espectro antropológico. Para isso, ao mesmo
tempo em que é preciso promover o reconhecimento e consideração pelo habitat comum,
pela potencialidade da riqueza cultural do Hemisfério e pelo futuro comum e
interdependente que nos aguarda, será necessário cultivar a capacidade de se buscar
acordos mínimos para a convivência em meio à necessária pluralidade que nos
caracteriza. Para isto, as estratégias educacionais necessitam, uma vez mais, cultivar o
sentido argumentativo da linguagem e sua riqueza comunicativa.
A educação não pode gerar confiança nem tornar vigente a
democracia, mas certamente sem ela não se podem atingir por si só estas metas. A
convivência é natural, a democracia é o resultado de uma construção cultural e, por
conseguinte, é educável.
C. A educação para a promoção da paz entre os Estados
O espírito deste propósito é claramente positivo, uma vez que se
baseia no fortalecimento da confiança entre os países do Hemisfério e se articula com
os objetivos da Carta da OEA, de "prevenir as possíveis causas de dificuldades e
assegurar a solução pacífica das controvérsias que surjam entre seus membros;
promover, por meio da ação cooperativa, seu desenvolvimento econômico, social e
cultural (Cf. artigo 2 da Carta).
Para o desenvolvimento desta proposta é necessário que a educação
promova, entre as novas gerações, a convicção de que a guerra não é mais uma
alternativa da gestão política, mas seu inimigo, que é uma invenção da cultura e que
se pode deter com decisões inteligentes dos Estados.
Dentre as possibilidades de mediação que a educação oferece neste
assunto (também limitada, visto que estão envolvidos outros centros de poder,
freqüentemente com maior impacto), uma tarefa a ser realizada é a da formação na
continuidade e interação que deve existir entre o ético e o político, bem como na
capacitação para a interação e a colaboração entre a sociedade civil e o Estado, de
acordo com o conceito de solução inteligente dos conflitos e por meio de experiências
significativas.
Outra tarefa, ainda no plano ético, é a de formar as novas gerações
para a tramitação institucional dos conflitos (isto é, tornar visível o poder que tem
o Direito), para o qual terá que examinar a fundo com eles a recuperação do valor e da
importância que tem a norma para a vida pessoal e em comunidade e o caráter nocivo da
alienação, assim como a necessária correlação entre direitos e deveres, cuja
formação e fortalecimento nem sempre motivaram o mesmo ritmo.
Os programas e processos de integração e cooperação inter-regional
e interestatal, não só no campo econômico mas também no social e cultural, certamente
facilitarão o reconhecimento mútuo da riqueza que encerra nossa diversidade cultural e
social, a pluralidade de ethos que possuímos, a variedade de situações,
mentalidades, realidades humanas e sonhos de nossa vida diária. Desta maneira, esses
programas e processos constituem-se numa das melhores estratégias pedagógicas para
prevenir que ocorra a guerra, uma vez que, como se recordava anteriormente "as
guerras nascem na mente dos homens" (Carta da UNESCO) e, freqüentemente são
organizadas e conduzidas em meio a racionalizações abstratas que não permitem
considerar os conflitos específicos, locais, do desenvolvimento humano, atropelando-se,
com conseqüências irreparáveis.
VI. COMPROMISSO CONCRETO COM O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO
PARA A PAZ NO HEMISFÉRIO
Após 50 anos de existência da Organização e no limiar de um novo
milênio, a sociedade atual conta com potencialidades hemisféricas e internacionais que
permitem à OEA convocar os Estados membros a enfrentar novos e ambiciosos desafios nas
áreas propostas.
Entre essas potencialidades pode-se destacar o papel fundamental
atribuído à educação no novo século, a revolução do conhecimento que ocorreu no
decorrer do que termina, o nível de consciência planetária e hemisférica que o homem
atingiu, sua sensibilidade perante os direitos humanos e o valor da democracia, o
reconhecimento do valor da diversidade étnica e cultural, o avanço do conhecimento
pedagógico e das novas ciências cognitivas, as oportunidades da informática, a
aprendizagem dos riscos emanados de uma ciência, uma política e uma economia
desconectadas da ética.
A elas se acrescenta a vontade e os programas de organizações, como
os da UNESCO, em prol da cultura da paz, tal como vieram manifestando, na última década,
as diversas agendas dos países do Hemisfério no que se refere às intenções desta
proposta, as quais, no entanto, freqüentemente não passaram do nível do discurso para o
nível da prática.
Todas essas e outras potencialidades que caracterizam o ser humano
neste século permitem à Organização dos Estados Americanos propor aos Estados membros
o desafio de formar, numa primeira etapa, uma geração de educandos do Hemisfério, de
acordo com as diretrizes e os propósitos mencionados nesta proposta, diretrizes essas que
levam à construção da cultura de paz, uma vez que, como o definiu a Conferência Geral
da UNESCO em 1995, "Nos últimos anos do século XX, o principal desafio é iniciar a
transição de uma cultura de guerra para uma cultura de paz: uma cultura da harmonia
social e do compartilhar, fundamentada nos princípios de liberdade, justiça e
democracia, de tolerância e solidariedade, uma cultura que rejeite a violência e que
procure prevenir as causas dos conflitos em suas raízes, bem como dar solução aos
problemas mediante o diálogo e a negociação, uma cultura que garanta a todos o
exercício pleno de todos os direitos e dos meios para participar plenamente do
desenvolvimento endógeno de sua sociedade".11
A avaliação que se fizer no fim deste período permitirá aprofundar
essas convicções ou reformulá-las, mas teremos o valioso legado de um empenho
hemisférico concreto e solidário e de uma experiência particularmente significativa.
VII. TRADUÇÃO DA PROPOSTA EM AÇÃO
A tradução desta proposta em ação pode ter diversas expressões no
campo da docência, da pesquisa, da cooperação interinstitucional, das redes acadêmicas
e informáticas, por meio de diversos programas que mantenham a intencionalidade das
grandes diretrizes propostas para essas áreas de trabalho e evitem que sejam reduzidas a
atividades transitórias ou de caráter estritamente local.
De acordo com os agentes mais importantes para traduzir em ação o
Programa de Educação para a Paz no Hemisfério, uma responsabilidade prioritária cabe
aos Ministérios da Educação, da Cultura e das Comunicações ou seus equivalentes e às
universidades, uma vez que, conforme declarou a UNESCO, "A participação das
universidades na criação e na manutenção do novo paradigma, no fortalecimento de uma
Cultura de Paz, pode ser um componente crítico".12
"As instituições de educação superior", acrescenta "interconectadas com
outras organizações, têm a oportunidade sem precedentes de promover o ensino, a
pesquisa e o serviço dedicados a uma Cultura da Paz".13
O êxito deste Programa dependerá da ação do coordenador
internacional designado para executá-lo e dos coordenadores regionais (um por cada
sub-região do Hemisfério) os quais, de conformidade com as características dos diversos
países e em coordenação com outros programas da OEA e da UNESCO, promoverão o programa
e administrarão o desenvolvimento das diferentes iniciativas que forem formuladas.
Esta gestão exigirá a realização de reuniões regionais de peritos
para avaliar periodicamente o andamento do programa e para propor novas alternativas para
o seu desenvolvimento.
1. UNESCO, La educación superior en
el Siglo XXI, Visión y acción. Debate temático: la promoción de una cultura de PAZ,
Paris, 5 a 9 de outubro de 1998, página 3.
2. UNESCO, XVIII Conferência Geral, Recomendaciones
concernientes a la educación para la Comprensión Internacional, la Cooperación y la
Paz, y la Educación relativa a los Derechos Humanos y las Libertades Fundamentales,
Paris, novembro de 1974.
3. OEA/Ser.G, CP/CSH-160/99 rev. 1, "Diretrizes
para a elaboração de um Programa de Educação para a Paz no Hemisfério", página
3.
4. Entende-se que o território é uma
"construção social", que inclui a percepção da geografia, mas que está
articulada à agenda cultural da população que ali se estabelece.
5. Uma primeira tarefa consistirá, assim, em retirar a
guerra das salas de aula, isto é, eliminar as agressões contra as crianças, os
professores e os espaços próprios da ciência e da cultura; outra tarefa consistirá em
fazer com que a escola, a universidade e a ciência sejam construtoras ativas da paz.
6. Cf. Jacques Delors (dir.) La educación encierra
un tesoro. Madrid: Santillana, Edic. UNESCO, 1996.
7. O Conselho Econômico e Social das Nações Unidas
declarou, com relação a este aspecto, que "A sociedade da informação e da
comunicação nos abre grandes possibilidades para a expansão da educação mediante o
uso das novas tecnologias; no entanto, ao mesmo tempo, adverte sobre o perigo de expansão
de novas formas de exclusão social mais amplas e vinculadas a novos fatores como o acesso
ou não a estas redes educativas ou a falta precisamente de formação para fazer uso de
todo o potencial que se nos oferece". (Ferrán Ferrer, El derecho a la Educación
y los Programas de Compensación de Desigualdades, Nações Unidas, Conselho
Econômico e Social, Comissão de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, novembro de
1998, páginas 8-9.
8. Este foi o título do debate organizado pela UNESCO,
em agosto de 1998, no qual se fez um apelo especial às universidades, para que seu ensino
seja "um ensino bem fundamentado do ponto de vista cultural, que ministre um
conhecimento do próximo aos estudantes e que, ao mesmo tempo, lhes permita conhecer
melhor a si mesmos". Rex, Nettleford, Movilizar el poder de la cultura",
UNESCO, La Educación Superior en el siglo XXI. Visión y acción, Paris, outubro
de 1998, página 9.
9. Neste campo a promoção dos direitos culturais é
fundamental, tal como entendem as Nações Unidas: "Trata-se, portanto diz um
recente documento dessa Organização de direitos fundamentais sem cujo respeito
nenhum direito humano pode aplicar-se de modo válido. Esses direitos são portadores de
modo muito imediato da dignidade humana enquanto liberdade, autonomia e criatividade. Tudo
isso é válido no nível pessoal. No nível comunitário esses direitos constituem a base
de toda cultura democrática" (Patrice Meyes-Bisch, Lógicas del derecho a la
educación dentro de los derechos culturales". Nações Unidas, Conselho
Econômico e Social. Comissão de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, 30 de
novembro de 1998, página 3.)
10. "Se bem que todos os direitos humanos sejam
indivisíveis e interdependentes e estejam relacionados, o direito à educação está
mais vinculado do que a maioria dos demais à realização de todos os direitos humanos. A
educação é um direito humano intrínseco e um meio indispensável de realizar os outros
direitos humanos, civis, culturais, econômicos, políticos e sociais." (Audrey
Chapman e Sage Russel, Violaciones del derecho a la educación. Nações Unidas.
Conselho Econômico e Social. Comissão de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, 30
de novembro de 1998, página 1.)
11. UNESCO, La Educación Superior en el Siglo XXI,
loc. cit, página 4.
12. Ibid. página 3.
13. Ibid. página 9.
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