PALAVRAS DE SUA EXCELÊNCIA O SENHOR
EMBAIXADOR OSMAR VLADIMIR CHOHFI
SECRETÁRIO-GERAL DAS RELAÇÕES EXTERIORES
CHEFE DA DELEGAÇÃO DO BRASIL À
XXXII ASSEMBLÉIA GERAL DA OEA
DIALOGO DOS CHEFES DE DELEGAÇAO
Tema 3: A OEA, a Democracia e o Comércio
Senhora Presidenta,
Nos últimos anos temos acompanhado com
grande satisfação o processo de fortalecimento da Organizaç~o dos Estados
Americanos como principal órgão político de nosso Hemisfério. E, pois, com
naturalidade que participamos do debate que hoje mantemos nesta Assembléia
Geral envolvendo dois temas da maior relevância na agenda internacional
-democracia e comércio -promovido por nossa Organização.
Já tive a oportunidade, esta manha, de
referir-me amplamente, durante este Diálogo dos Chefes de Delegação, à questão
da democracia. Quero, portanto, neste momento concentrar minhas observações no
tema do comércio.
No mundo atual, países democráticos tendem
a ter economias mais abertas. Isso pode ser constatado no nosso Hemisfério nas
últimas décadas. Parece claro que a participação crescente do cidadão na vida
pública acarreta condições de consumo mais satisfatórias, que em muitos casos
podem ser resultado da abertura omercial. No entanto, é preciso ter presente
que o cidadão, antes de ser um consumidor / é sobretudo um sujeito de direitos,
foco central das ações governamentais.
O Brasil entende que a agenda hemisférica
deve atribuir prioridade à redução das desigualdades e à inclusão social.
Atualmente, 45 por cento da população da América Latina e do Caribe vive abaixo
da linha da pobreza. O futuro de nossas democracias não depende unicamente do
fortalecimento de suas instituições. É também necessário criar um ambiente
econômico e comercial mais favorável e previsível, resistente às tendências
unilaterais, que se opõem à visão democrática da ordem mundial.
Para dinamizar o comércio nas Américas, é
necessário impulsionar todos os níveis de negociação comercial: o bilateral, o
sub-regional, o regional e o multilateral. Acordos bilaterais devem ser
privilegiados, sobretudo quando complementam aspectos não contemplados em atos
internacionais mais abrangentes. No que diz respeito ao plano sub-regional, o
Mercosul, prioridade da diplomacia brasileira, é claro exemplo de uma
iniciativa comercial que se i consolidou no processo de democratização política
da região e promoveu ampla, aproximação e cooperação entre seus sócios.
Os Chefes de Estado e de Governo das
Américas, no marco das reuniões de
cupula, propuseram a criação da Area de
Livre Comércio das Américas. Para o Brasil, as negociações da ALCA sempre
estiveram inseridas no contexto mais amplo da promoção do livre comércio e do
maior acesso de produtos a mercados internacionais, apoiando o processo de
desenvolvimento dos países da região. A ALCA deve complementar as negociações
multilaterais empreendidas no âmbito da OMC, os esforços de consolidação e
aproflJndamento do Mercosul e as negociações entre o Mercosul e a União
Européia.
O Brasil tem atuado de forma intensa e
constante nas negociações da ALCA. O governo brasileiro, ao lado dos parceiros
do MERCOSUL, tem participado e apresentado propostas em todas as instâncias
negociadoras do processo ALCA. O setor produtivo brasileiro está ciente dos
desafios e oportunidades que surgirão com a ALCA e vem se preparando para participar
plenamente desse enorme mercado que unirá as Américas do Alasca à Terra do
Fogo.
Cremos que chegou o momento de a
comunidade interamericana pronunciar-se inequivocamente a favor do livre
comércio, livre de subsídios e práticas desleais. A Área de Livre Comércio das
Américas deve constituir um compromisso único (sing/e undeltaking), com um
único conjunto de regras para todos os participantes. Prazos mais flexíveis,
entretanto, poderão ser concedidos a países com menor grau de desenvolvimento,
entre estes as pequenas economias. Nas palavras do Presidente Fernando Henrique
Cardoso, "Esperamos que se inicie um processo que assegure um livre
comércio de mão dupla, com ganhos generalizados e equânimes, revertendo o atual
estado das coisas, onde o protecionismo de alguns, sobretudo na área
agrí<.~ola, continua a prevalecer sobre o interesse de muitos".
A ALCA será bem-vinda se sua criação for
um passo para dar acesso a mercados mais dinâmicos; se efetivamente criar
regras compartilhadas que corrijam assimetrias; se evitar a distorção
protecionista; e se, ao proteger a propriedade intelectual, promover, ao mesmo
tempo, a capacidade tecnológica de nossos povos. Se soubermos constitui-Ia com
esses objetivos em mente, a ALCA podera representar um avanço na promoção do
desenvolvimento e da justiça social.