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Temas considerados pela Comissão

Programa de Educação para a Paz

 

Reunião de Peritos para Elaborar un Projeto de Programa de Educação para a Paz no Hemisfério

 

REUNIÃO DE PERITOS PARA ELABORAR UM
PROJETO DE PROGRAMA DE EDUCAÇÃO
PARA A PAZ NO HEMISFÉRIO
14 e 15 de outubro de 1999
Cartagena de Índias, Colômbia
OEA/Ser.K/XXIX
REPEP/doc.9/99 rev. 2
27 janeiro 2000
Original: espanhol

 NOTA EXPLICATIVA

A Comissão de Segurança Hemisférica, em sua sessão realizada em 9 de novembro de 1999, solicitou à Secretaria de Conferências e Reuniões e à Secretaria da Assembléia Geral, da Reunião de Consulta e do Conselho Permanente que revisassem o estilo e o formato do texto do documento REPEP/doc.9/99 rev. 1 nos quatro idiomas oficiais da Organização.

Em cumprimento dessa solicitação, em 9 de dezembro de 1999, quatro tradutores/revisores da Unidade de Idiomas e da Secretaria de Comissão designada à Comissão de Segurança Hemisférica realizaram uma reunião.

A Secretaria-Geral tem a satisfação de submeter este documento (REPEP/doc.9/99 rev. 2) que contém os ajustes de estilo e formato que foram considerados necessários para compatiblizar o texto nos quatro idiomas oficiais da Organização.

 

PROJETO DE PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PARA A PAZ NO HEMISFÉRIO

(Aprovado pela Reunião de Peritos em 15 de outubro de 1999)

 

Os Peritos Governamentais dos Estados membros da Organização dos Estados Americanos, reunidos em Cartagena, Colômbia, em 14 e 15 de outubro de 1999, para elaborar um projeto de Programa de Educação para a Paz no Hemisfério, em cumprimento dos mandatos constantes das resoluções AG/RES. 1604 (XXVIII-O/98) e AG/RES. 1620 (XXIX-O/99) da Assembléia Geral,

CONSIDERANDO que os Estados membros da Organização, reunidos na Conferência de San Salvador sobre Medidas de Fortalecimento da Confiança e da Segurança de Acompanhamento da Conferência de Santiago, adotaram a Declaração de San Salvador sobre Medidas de Fortalecimento da Confiança e da Segurança, na qual recomendam que a Comissão de Segurança Hemisférica do Conselho Permanente conclua a elaboração do Programa de Educação para a Paz, acordado pela Assembléia Geral da OEA, e dê início a sua implementação;

TENDO EXAMINADO o documento preparado pela Secretaria-Geral da Organização e adotado pela Comissão de Segurança Hemisférica, "Diretrizes para a Elaboração de um Programa de Educação para a Paz no Hemisfério" (CP/CSH-160/99 rev. 1), as contribuições feitas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), pelo Colégio Interamericano de Defesa, pela Universidade para a Paz e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), bem como por outras entidades e peritos, e muito especialmente as exposições e os pontos de vista apresentados pelos peritos governamentais na reunião de Cartagena; e

RECORDANDO que o ano 2000 foi proclamado pela Assembléia Geral das Nações Unidas, por iniciativa da UNESCO, o Ano Internacional da Cultura de Paz,

ACORDAM SUBMETER à consideração do Conselho Permanente da Organização as seguintes recomendações que contêm diretrizes gerais para um Programa de Educação para a Paz no Hemisfério, que poderiam ser adotadas pelos Estados da maneira que julguem a mais adequada:

 

RECOMENDAÇÕES

I. Objetivo Geral do Programa

O Programa de Educação para a Paz no Hemisfério, com base no reconhecimento de que a educação é um dos pilares para a promoção da paz, a prevenção dos conflitos e a redução da violência, se propõe a:

1. Promover um processo que tenha como objetivo desenvolver entre a população valores, conhecimentos, crenças, atitudes e comportamentos conducentes ao fortalecimento de uma cultura política democrática e de uma cultura de paz.

2. Enfatizar a relação entre os valores e as práticas democráticas e a convivência pacífica.

3. Contribuir para um melhor entendimento de respeito e tolerância e para um tratamento adequado dos problemas que, no âmbito hemisférico, regional, sub-regional ou local, perturbam a paz, tanto no âmbito interno dos países como entre os Estados.

4. Aproveitar os mecanismos e programas existentes da OEA, da UNESCO, da Universidade para a Paz, da FLACSO e de outros organismos no campo da educação para a paz e promover uma cooperação e um intercâmbio maiores entre esses organismos.

5. Instar a Comissão de Segurança Hemisférica do Conselho Permanente a que promova, no âmbito da Organização dos Estados Americanos, as ações necessárias para que o organismo regional participe ativamente do Programa de Ação sobre uma Cultura de Paz das Nações Unidas e a comemoração pela ONU do Decênio Internacional para uma Cultura de Paz e de Não-Violência para as Crianças do Mundo.

 

II. Destinatários

O destinatário último do Programa de Educação para a Paz no Hemisfério é a população, em especial os jovens, as mulheres e os demais grupos vulneráveis. Neste sentido, o Programa levará especialmente em conta as instituições e organizações do Estado e da sociedade civil que são consideradas estratégicas, tanto por seu papel de formadoras de opinião como pelo efeito multiplicador de suas atividades.

 

III. Áreas do Programa

O Programa compreende três áreas: 1) a educação para a promoção da paz entre os Estados; 2) a educação para a solução pacífica de conflitos; e 3) a educação para a promoção dos valores e das práticas democráticas.

 

1. A educação para a promoção da paz entre os Estados

a) Objetivos:

– Incentivar os processos de aproximação entre os Estados a fim de aumentar a confiança mútua;

– Promover medidas de fortalecimento da confiança mútua para o fortalecimento da segurança e da paz entre os Estados;

– Promover, entre os países de uma mesma sub-região, um maior conhecimento e entendimento da história, da cultura, da política, da sociedade, do direito, das relações internacionais e das tradições desses países;

– Divulgar os esforços realizados no Hemisfério para promover o desarmamento e a luta contra o tráfico ilegal de armas;

– Promover políticas proativas de diálogo e, ao mesmo tempo, aprofundar o conhecimento dos mecanismos de solução pacífica das controvérsias, desenvolvendo para essa finalidade uma adequada vontade política e práticas diplomáticas preventivas;

– Estimular o diálogo entre os Estados para a criação de espaços de concertação capazes de favorecer o fortalecimento da segurança e o uso de mecanismos de solução pacífica como meios de trabalhar a favor da paz;

– Estudar e promover os mecanismos e processos de integração no Hemisfério, como instrumentos para a promoção da segurança e da paz entre os Estados;

– Envolver os militares e suas instituições acadêmicas nos processos de educação para a paz e estimular um maior intercâmbio entre os militares sobre este tema; e

– Estudar e desenvolver mecanismos para a prevenção dos conflitos bélicos da região.

b) Atividades:

– Organização e realização de programas educacionais, cursos e pesquisas sobre a história, a cultura, a política, a sociedade, o direito, as relações internacionais e as tradições dos países das diversas sub-regiões, ressaltando os princípios de amizade e cooperação entre os Estados;

– Organização e realização de cursos e seminários sobre a evolução e o funcionamento dos sistemas de integração como instrumentos para a promoção da segurança e da paz entre os Estados;

– Realização de pesquisas e seminários para a análise e avaliação das políticas destinadas a promover a segurança e a paz entre os Estados;

– Organização e realização de reuniões para a análise e a divulgação das experiências bem-sucedidas das sub-regiões na promoção da segurança e da paz no Hemisfério;

– Organização e realização de estudos sobre o desarmamento e a luta contra o tráfico ilícito de armas;

– Estabelecimento na sede da OEA de um registro de peritos e instituições e de possíveis fontes de financiamento na área da educação para a paz, em nível nacional, sub-regional e regional, e vinculá-lo à Web page da Rede Mundial de Doadores e Organizações Multilaterais para a Prevenção de Conflitos e a Reconstrução, da qual a OEA participará;

– Organização e realização de intercâmbios e estágios entre atores governamentais e não-governamentais para facilitar o conhecimento mútuo entre os países do Hemisfério;

– Desenvolvimento de estratégias educativas dirigidas aos setores militares da região para permitir a inclusão de módulos sobre a educação para a paz entre os Estados e a solução pacífica de conflitos;

– Organização de jornadas de reflexão voltadas para o conhecimento e a análise das possíveis causas de conflito no Hemisfério; e

– Promoção, no âmbito da OEA, de intercâmbios que permitam a aproximação entre os centros acadêmicos ou diplomáticos que exercitam ou realizam a análise das relações internacionais.

 

2. A educação para a solução pacífica de conflitos

a) Objetivos:

– Promover o desenvolvimento de processos de concertação e consenso entre os diferentes setores da sociedade;

– Propiciar a análise integral de situações de conflito, bem como dos processos de mediação, conciliação e negociação, que facilitem o diálogo e a construção de consenso;

– Fomentar o intercâmbio entre Estados de experiências bem-sucedidas de gestão pacífica de conflitos;

– Contribuir para a criação de mecanismos orientados para o tratamento e a gestão pacífica de conflitos;

– Divulgar a importância da eliminação da pobreza, bem como da relevância do desenvolvimento econômico e da eqüidade social, como elementos vitais para a paz;

– Promover a participação da sociedade civil na criação de uma cultura de paz;

– Propiciar a participação ativa dos meios de comunicação social na construção de uma cultura de diálogo e concertação; e

– Apoiar os processos de reforma e modernização dos sistemas nacionais de administração de justiça, enfatizando o combate à corrupção e à impunidade, bem como a promoção de mecanismos de mediação e conciliação.

 

b) Atividades:

– Organização e realização de cursos regionais de capacitação em técnicas de análise, prevenção e resolução de conflitos;

– Organização e realização de campanhas de divulgação sobre a capacidade pacificadora do diálogo, da mediação, dos processos de criação de consensos e da cooperação;

– Realização de pesquisas, manuais e publicações que permitam uma análise sistemática das formas de violência e conflito, de seus padrões de causa, bem como das estratégias para sua prevenção e resolução pacificas;

– Realização de seminários para avaliar o tratamento e a gestão de conflitos, incluindo, entre outros, a análise empírica de conflitos, a melhoria dos sistemas da administração de justiça, a mediação, a conciliação, a negociação e a facilitação do diálogo;

– Desenvolvimento de campanhas de sensibilização e educação dos cidadãos nos meios de comunicação social sobre a solução pacífica de conflitos;

– Sistematização e intercâmbio de experiências bem-sucedidas de solução pacífica de conflitos entre instituições governamentais e/ou não-governamentais, por meio de seminários, estágios, consultorias, assessorias e ações focalizadas na criação de capacidade institucional; e

– Fomento da implementação de projetos internacionais que incluem programas de solução pacífica de conflitos como forma de avaliar impactos e sistematizar experiências.

 

3. A educação para a promoção dos valores e das práticas democráticas

a) Objetivos:

– Reformar os sistemas educativos para transformar a escola em um lugar para a dissuasão da violência e a promoção da justiça e da paz;

– Promover e divulgar nos sistemas educativos formais e não-formais um maior conhecimento e entendimento das instituições, dos valores e das práticas democráticas;

– Difundir os princípios universais dos direitos humanos e seus mecanismos de proteção, do direito internacional humanitário e da abstenção do uso da força;

– Promover e difundir as noções de diversidade, pluralidade, eqüidade e tolerância entre os diversos setores da sociedade civil, especialmente entre os grupos mais vulneráveis de nossas sociedades;

– Preservar o meio ambiente e propiciar um desenvolvimento sustentável adequado;

– Promover e difundir os direitos e deveres dos cidadãos na promoção da cultura de paz; e

– Incentivar a educação não-formal e para adultos, incluindo os contribuições das ONGs nesta área.

 

b) Atividades:

– Desenvolvimento de um currículo modelo em nível de primeiro, segundo e terceiro graus, e de educação não-formal e para adultos, com a incorporação de novas metodologias para o ensino e o aprendizado dos valores e das práticas democráticas;

– Identificação das melhores práticas na promoção do ensino dos valores e das práticas democráticas;

– Levando em conta as contribuições das comunidades locais, desenvolver guias teóricos e práticos em matéria de educação para a paz para peritos, autoridades e docentes, que sirvam de apoio a ministérios de educação e centros de formação e capacitação de professores;

– Organização e realização de seminários e cursos de capacitação sobre ensino e aprendizado de valores e práticas democráticos para educadores, pessoal técnico no campo educacional e administrativo, docentes e dirigentes de estabelecimentos educacionais;

– Desenvolvimento de programas que utilizam a arte como meio de ensino, divulgação e promoção dos valores e das práticas democráticas;

– Organização e realização de cursos e campanhas de informação pública sobre valores e práticas democráticos que destaquem as contribuições de todos os setores da sociedade e a divulgação dos direitos e deveres dos cidadãos. Estes cursos e campanhas também promoveriam atitudes de tolerância e apoio aos grupos vulneráveis, especialmente as pessoas deslocadas e refugiados;

– Organização de cursos sobre valores e práticas democráticos provenientes de partidos políticos, universidades, meios de comunicação e ONGs, e a membros das forças armadas e de segurança pública; e

– Organização e realização de cursos e seminários práticos sobre segurança, defesa, relações entre civis e militares e valores e práticas democráticos, destinados a instituições civis e militares, com o objetivo de promover uma maior aproximação, interação e confiança entre estes dois setores.

 

ANEXO

Premissas conceituais mencionadas na Reunião de Peritos

Construir a paz é um processo que se expressa em função da confiança. O espírito deste processo articula-se com os objetivos da Carta da OEA no tocante à prevenção das possíveis causas e dificuldades que possam surgir entre os Estados. Nesse propósito, a educação para a paz pode gerar um clima de confiança.

O conflito é parte essencial da vida social. Portanto não se trata de eliminá-lo, mas de tratá-lo da forma adequada. "O conflito é inerente à dinâmica humana e social e, em geral, longe de ter uma conotação negativa, apresenta, pelo contrário, um claro sentido positivo, por oferecer uma oportunidade para desenvolver a criatividade ou promover a madureza pessoal, social e internacional, na busca de níveis superiores e melhores de organização. Em última instância, os conflitos mais inteligentes demandam formas de solução também mais inteligentes. As sociedades que progridem precisam de conflitos inteligentes."/

A solução pacífica dos conflitos implica o reconhecimento da legitimidade dos diversos atores sociais, e de sua posição de interlocutores válidos no conglomerado social, no âmbito do princípio do reconhecimento e respeito da diversidade.

O exercício pleno da cidadania é outorgado ao indivíduo não somente por ser ele sujeito de direitos, mas no pressuposto concomitante de responsabilidades e deveres, que devem começar pela família, célula básica da sociedade. Portanto, a resolução alternativa de conflitos deve ser regida pelos princípios de co-responsabilidade, subsidiariedade, solidariedade e participação.

A pobreza crítica, a exclusão e a falta de eqüidade constituem causas estruturais dos conflitos sociais. Fazem-se necessários programas específicos e políticas públicas que enfrentem estes males como uma forma de gerar um contexto social favorável à solução pacifica dos conflitos, promovendo deste modo a governabilidade democrática.

Como resultado da crescente globalização, a manutenção da paz entre os países depende, em grande medida, do grau de interdependência e da comunidade de interesses socioeconômicos, geográficos e políticos entre eles. Portanto, um programa de educação para a paz, nos países das Américas, deve levar a um maior entendimento e conhecimento mútuo das diferentes realidades nacionais e da mencionada interdependência e comunidade de interesses entre as nações do Hemisfério.

O contexto internacional caracteriza-se, entre outros aspectos, pela ausência de conflitos armados entre os países americanos. Esta situação facilita a redefinição do papel das forças armadas. Uma de suas possíveis funções seria a de propiciar mecanismos de solução pacífica de conflitos.

 


1. CP/CSH-225/99, Educação para a Paz no Hemisfério: Por uma Cultura da Confiança e da Convivência Democrática. Documento de Trabalho, apresentado pela Delegação da Colômbia junto à OEA.

 

 

 

 


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